Quem tem medo do fim do mundo?

Há muitos anos, um amigo da faculdade, sábio e espirituoso,  disse em meio a um dos tantos anúncios de apocalipse que se manifestam de tempos em tempos, que o ruim não era o mundo se acabar e sim morrer e perder o que ia acontecer depois. Se o mundo acaba, quem iria querer ficar vivo sozinho? Morrer só seria ruim se as coisas continuassem acontecendo sem a nossa presença. Nunca esqueci a brincadeira e ela sempre volta em minhas reflexões sobre a morte. Durante todo o ano, criou-se uma expectativa em torno do dia 21 de dezembro que rendeu até programas e séries inteiras em canais como History, Discovery e National Geographic. Grupos foram formados e soube de muitas pessoas que se mudaram para cidades que foram marcadas como lugares de poder onde a vida permaneceria. Outros criaram bunkers onde armazenaram alimentos para garantir a sobrevivência pós-apocalipse.  Profecias foram misturadas, como Nostradamus com Maias, Hopi Haris, Segredo de Fátima e até vi modernos profetas localizando na internet indícios de que o fim estava próximo através de buscas aleatórias por palavras e números que se repetiam de uma maneira tal que formavam uma profecia pós moderna e virtual anunciando o fim dos tempos. Nunca entendi nada, mas lembro de uma das vezes em que alguém mencionou o absurdo de se procurar pistas assim, comparando por exemplo com uma busca na Bíblia Sagrada, que por ser um livro grande, possibilitaria encontrar termos de tantas em tantas palavras  que ordenados apontariam qualquer coisa que estivéssemos procurando.
Lembro quando era criança, um boato em Recife de que havia nascido uma criança com barba e falando e que ela disse que o mundo acabaria no dia 7 de setembro daquele ano. Acordei chorando apavorada ( com a imagem de um bebê barbudo e falante, por si só bastante assustadora) no dia fatídico e papai levou-me pra passear de carro na praia e me mostrar que estava tudo bem. Precisei de muito tempo pra me convencer e acho que só acreditei mesmo que estava tudo bem quando o dia acabou e o mundo não.
Existem claro análises sociológicas sobre o assunto, mas do ponto de vista pessoal, baseado em senso comum, penso que o fim do mundo não realizado ontem trouxe a baila, de alguma maneira, o desejo pela espiritualização. E isso é sempre positivo. Mesmo quem não acreditava foi obrigado a alguma reflexão sobre o assunto. Sobre a morte, sobre o trato com a natureza e a administração dos recursos naturais, sobre o inevitável fim de todos nós.
Eu mesma fiz uma prece a Nossa Senhora pedindo pra nos livrar de toda a dor e de todo o mal. Eu mesma, lá no fundo sabendo que nada aconteceria, tive receio de que algo terrível pudesse acontecer, vindo de lá do outro lado do mundo, uma guerra nuclear talvez. Me vi e acho que muita gente se viu, apreensiva com a possibilidade, bem real até, de que apocalipses poderiam vir de nós mesmos. Da humanidade doente. Poderia sim ser uma guerra nuclear, poderia ser um desastre natural provocado pela ação irracional do homem sobre a natureza, ou poderia ser uma daqueles acasos que a qualquer momento pode colocar nosso planeta em rota de colisão com algum astro em movimento. Não importa. Importa é que temos de estar atentos e conscientes de que o mundo pode sim ser destruído e de que nós vamos um dia deixar este planeta. Cuidar para que deixemos boas impressões nos que nos conheceram, para que nosso filhos se lembrem de nós com afeto, para que de uma forma ou de outra deixemos uma marca positiva de nossa passagem pela terra deve ser nossa obrigação. Deve ser nosso desejo. Deve ser nossa realização mais importante.
O mundo não acabou. Mas os sentimentos e pensamentos que a ideia do fim sempre trás aos crédulos e aos incrédulos devem permanecer para que tentemos tornar nossa passagem por aqui proveitosa. Para que valha a pena ter estado por aqui.

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