Mais um passo

"Todo mundo é capaz de
 dominar uma dor, 
exceto quem a sente"

William Shakespeare .


Pânico: quando o medo vira medo (de si mesmo).



   
Meio doido né? quando é que o medo vira medo? Quando ele deixa de ser uma sensação difusa e passa a ser autoconsciente. Ele passa a perceber a si mesmo através de sensações físicas desagradáveis e então passa a temer a si mesmo, à essas sensações que ele provoca involuntariamente. Ele vira medo quando sabe que pode ser perigoso, que pode imobilizar, que pode destruir.É irracional e difuso, não vem de uma ameaça real,  vem do nada. De repente você não tem mais controle nenhum de seu corpo de suas sensações e emoções. No momento em que se passa a ter medo do próprio medo, passamos para um nível acima:  pânico.

Quando jovem, li em um livro de Lobsamg Rampa uma frase que sempre me vem a mente em tempos de pânico: " a única coisa que se deve temer é o medo".  Lembro pois é assim que sinto, é isso que vivo em meio às crises que recomeçaram há algumas semanas atrás e para as quais não dei muita importância pois o último episódio foi há tantos anos que eu cria estar curada.
Sempre soube que o tratamento para a síndrome do pânico é através de antidepressivos. Só eles evitam as cries, evitam que se instale. Ansiolíticos sedam os sintomas por um tempo mas tão logo seu efeito passa, ele retorna com força redobrada e aí a gente começa a duvidar de que seja apenas uma crise de pânico. A sensação é de morte iminente.  O coração dispara, as mãos ficam frias e úmidas, os braços dormentes, a respiração acelerada. E em cada episódio os sintomas mudam, nosso cérebro tentando nos enganar, nos convencer de que de fato estamos morrendo. O diálogo mental é cruel, furioso, tresloucado. É pânico, você sabe..não mas pode ser um enfarte e você aqui pensando que é pânico não vai ´procurar socorro e aí vai morrer mesmo. ....quando passa você pensa: tá vendo? você não tem nada é pânico... até a próxima crise, aí começa tudo de novo.
Para cada pessoa acontece de um jeito diferente e a resposta às crises é sempre individual. O mais difícil para mim, e o que me impede de sair mais rapidamente delas é aceitar o fato. Aceitar que tenho pânico, que não posso controlar e preciso de ajuda. A maioria das pessoas  aceita humildemente  a situação,  os medicamentos e seguem em frente. Mas não eu e a minha necessidade exacerbada de controle. Para pessoas assim é mortificante não ser capaz de controlar suas emoções, seus pensamentos, seu corpo. Por conta disso, dessa absurda necessidade de controle, durante muitos e muitos anos me recusei a tomar medicação. Sofria durante longos períodos  engolindo o pavor e correndo para o hospital só pra pedir a um médico pra confirmar que eu não estava enfartando , que eu estava respirando normalmente. Não queria ficar lá, ser cuidada ou medicada. Só queria que me dissessem que estava tudo bem pois aí eu poderia voltar pra casa e dormir em paz. Precisava que confirmassem "cientificamente" o que eu já sabia.

Como convivi com isso durante tantos anos e as crises ocasionais eram rapidamente superadas sem medicação, desta feita, não quis tomar nada, apesar dos conselhos de minha terapeuta, por julgar que poderia superar mais uma vez com medidas já conhecidas e eficazes em outras ocasiões.  
Tive alguns inshigts que julguei importantes, pois durante as crises fico esmiuçando  minhas memórias e tentando encontrar o gatilho que detonou a crise, e sendo assim, achando ter descoberto   o que estava subjacente ao episódio. Feito isso, achei que havia passado, pronto, sem mais crises. Pensei que fosse o bastante ter um ansiolítico para dominar alguma que viesse ainda a ocorrer como resquício 
Mesmo assim, minha terapeuta me deu uma receita  de Rivotril sublingual para o caso de uma crise mais forte. Sabem o que aconteceu, tive uma crise mais forte. E tive tanto medo que não tomei o remédio  pois até dele tive medo. Achei que morreria se tomasse. Não tomando também achei que morreria mas pelo menos era uma morte velha conhecida.

Tenho tanto medo deste medo, do pânico, que passo o dia inteiro prestando atenção ao meu corpo, pra ver se tem alguma dor, alguma tontura, alguma sensação qualquer, alguma coisa fora de lugar. Se encontro, e qualquer pessoa encontra se prestar atenção,  fico tão apavorada de que venha uma crise que acabo criando uma, ou seja, a ansiedade se instala e assume proporções gigantescas e em pouco tempo entro em crise novamente. Aí pra sair é fogo.
Hoje acordei bem, finalmente. E decidi partilhar minha dor. Penso que é importante admitir tudo isso. Que não tenho e não preciso ter controle sobre tudo, pois admitir para mim mesma minhas fraquezas, me torna mais capaz de tolerar as fraquezas alheias e exercitar assim muito melhor a compaixão e a humildade. Admitir em público também é importante, embora afete e muito minha autoimagem, pois o passo mais importante para vencer o problema é a aceitação. A entrega. E para isso é necessário diminuir o esforço em mostrar que está tudo bem, que não preciso de nada...que sou tão vulnerável e frágil quanto qualquer outra pessoa.
Dizem que a gente está aqui pra aprender, e sendo assim, com este depoimento exercito o aprendizado da humildade, do reconhecimento de que não precisamos suportar a dor sozinhos e o mais importante, de que não há razão para ter vergonha de senti-la.

Comentários

  1. Cristina, não pense que você está sozinha. Somos muitos. Eu tenho crises de pânico e durante algum tempo cheguei, mesmo, a procurar hospitais, com certeza que estava morrendo. Depois de diagnosticada, passei a andar com ansiolíticos para qualquer lugar que vá. sei como é dolorosa a crise e, pior, é a sensação de impotência, a vergonha perante as pessoas que lhe assistiram, o medo de nova crise... Não é fácil admitir que temos pânico e conheço muita gente que nega ter o problema. às vezes, o que surpreende é que você acha que está bem emocionalmente, não está deprimida nem ansiosa e, de repente, lá vem aqueles sintomas insuportáveis. Já fiz terapia e hoje tenho menos crises, mas continuo sendo acompanhada do meu rivotril sublingual pra todo lado. Acho que é uma doença que traz muitas características da sociedade moderna, dos medos fictícios ou reais a que estamos expostas. É se cobrar menos e aceitar as limitações que o corpo apresenta diante de doenças de qualquer origem. Abração, amiga - Ester Aguiar

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    1. Obrigada Ester, por dividir comigo.De fato, acho que o pior é a impotência, a incapacidade de controlar os sintomas mesmo sabendo do que se trata. Estou andando com o Rivotril na bolsa agora pois Inês me falou que é pra tomar logo ao primeiro sinal, antes que a crise se instale. No mais, só nos cabe aceitar a limitação.
      Um beijo

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  2. Minha amiga querida, bom vê-la de volta por aqui, melhor ainda poder constatar seu crescimento. Se olharmos o pânico do ponto de vista espiritual, podemos ligá-lo ao orgulho, mas acho que você já fez essa constatação. Porque o orgulho não nos permite sermos "iguais" aos outros, temos que ser melhores... não nos permite ser frágil, não nos permite a
    necessidade e dependência de outros...
    Quando aceitamos nossa fragilidade, nossa humanidade, nos tornamos capazes de desenvolver o perdão a nós mesmos e aos outros, e ai é possível, enfim, aceitar humildemente que necessitamos da ajuda do profissional, dos medicamentos, dos amigos, e principalmente da fé em algo muito maior e mais belo que a pequeneza de nossa vidinha cotidiana.
    O primiro passo você deu minha querida, continue, não pare, você merece, todos merecemos, estar bem e felizes. Grande abraço.

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    1. Obrigada Querida, é sempre bom contar com seus comentários me impulsionando pra frente.
      Um beijo

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