À propósito de Heitor
O texto de meu filho ainda repercute. Eu ainda com o ego inflado, tomando para mim um pouco de seu brilho, como se a mim se devesse uma parte da responsabilidade por ser ele quem é, pego uma carona no sucesso dele para uma reflexão sobre nós, pais, adultos responsáveis pelo gerenciamento dessas mentes em formação.
O quanto cabe a nós decidir o rumo que nossas crianças tomarão e como influenciar ou ao menos indicar o caminho que elas seguirão.
Como pais, todos nós desejamos que nossos filhos tenham bons sentimentos, tenham inteligência, tenham capacidade de administrar com sucesso suas emoções, de atuar com firmeza de caráter no meio em que vive. Nós queremos nos orgulhar deles, queremos que brilhem. Mas o que podemos fazer de concreto para contribuir para que assim seja? E mais ainda, o quanto nosso desejo tem poder de influir, o quanto baste, na concretização de nossos sonhos.
Se as coisas dão certo assumimos a culpa com orgulho, se não, podemos até perguntar onde foi que erramos, mas estamos preparados para saber a resposta?
A gente ensina, orienta, mostra, dá acesso a educação, tenta passar os valores que consideramos importantes, cercar de boas influências e mesmo assim, tantas vezes não dá certo. Às vezes de dois, um dá certo e outro não, um responde às nossas expectativas e outro não. Porque?
Recentemente assisti a um filme sobre um jovem americano que atira em alguns colegas e depois se mata, tema recorrente desde o massacre de Columbine* . O filme tinha de diferente a abordagem A perspectiva era a dos pais do atirador, mostrava o quanto suas vidas foram afetadas pelo ato de seu filho.
Até então nunca tinha pensado muito a respeito e partilhava tranquilamente o senso comum. "A culpa deve ser dos pais que não souberam criar o menino, que não lhe deram educação". Mas no filme víamos dois seres humanos destruídos, assustados, surpresos, abismados, tentando entender o que havia dado errado. Suas vidas foram destruídas também. A sociedade apedrejou esses pais, a imprensa pressionou, os vizinhos pressionaram e eles pressionaram um ao outro. O casamento entrou em crise. Eles se separaram.
Em nenhum momento foi mostrada a razão pela qual o garoto fez aquilo. O filme não deu importância alguma ao fato em si. O foco era a família da vítima invisível, escondida, inesperadamente surgindo na nossa cara como tal: o atirador.
E então? eles certamente não quiseram criar um filho capaz disso. Eles certamente tentaram ensinar os valores que nós tentamos ensinar aos nossos. Mas, então, é nossa responsabilidade quando dá errado? Por quase duas horas o diretor nos faz observar a busca de respostas por esses pais. Vasculhando o quarto à procura de uma explicação qualquer, um indício da tragédia que se anunciasse e que eles não puderam ver. Não acharam nada. Tudo normal, na vida normal, de um rapaz normal. Se para aliviar a própria culpa não importa. Eles queriam, precisavam entender por que. Mas não entenderam, porque não há como entender analisando individualmente. São atos coletivos que determinam atitudes individuais? É o modo como funciona o mundo a nossa volta?
Podemos tentar orientar, escolher os lugares que frequentam, amigos, escolas. Mas não podemos decidir o que eles farão com isso. Isso cabe a eles. Na internet vi circular a frase " não pergunte que mundo deixaremos aos nossos filhos, mas que filhos deixaremos ao nosso mundo". Mas temos algum controle? Nossos filhos são fruto de um caldeirão de experiências vistas e vividas. Um livro em branco onde não só nós escrevemos. O que eles serão resultará não só do que vivem, aprendem, observam, mas principalmente do modo como elaboram o que vivem. Talvez aí sim nos caiba alguma responsabilidade. Ajuda-los a adquirir a perspectiva correta do mundo a sua volta é talvez o que podemos fazer de mais importante. É talvez o que vai fazer alguma diferença.
O texto de Heitor é pequeno e tem um tom pesado, desesperançado, que não combina com a alegria e a fé na vida que deveria povoar, fazer morada em um coração tão jovem. Mas é também inspirador. O peso e a tristeza fazem parte da vida mas tenho certeza de que ele vai conseguir encontrar seu caminho e recuperar a leveza, e que esta não seja insustentável como a de Milan Kundera.
(* a esse respeito recomendo o filme Tiros em Columbine de Michael Moore)
O quanto cabe a nós decidir o rumo que nossas crianças tomarão e como influenciar ou ao menos indicar o caminho que elas seguirão.
Como pais, todos nós desejamos que nossos filhos tenham bons sentimentos, tenham inteligência, tenham capacidade de administrar com sucesso suas emoções, de atuar com firmeza de caráter no meio em que vive. Nós queremos nos orgulhar deles, queremos que brilhem. Mas o que podemos fazer de concreto para contribuir para que assim seja? E mais ainda, o quanto nosso desejo tem poder de influir, o quanto baste, na concretização de nossos sonhos.
Se as coisas dão certo assumimos a culpa com orgulho, se não, podemos até perguntar onde foi que erramos, mas estamos preparados para saber a resposta?
A gente ensina, orienta, mostra, dá acesso a educação, tenta passar os valores que consideramos importantes, cercar de boas influências e mesmo assim, tantas vezes não dá certo. Às vezes de dois, um dá certo e outro não, um responde às nossas expectativas e outro não. Porque?
Recentemente assisti a um filme sobre um jovem americano que atira em alguns colegas e depois se mata, tema recorrente desde o massacre de Columbine* . O filme tinha de diferente a abordagem A perspectiva era a dos pais do atirador, mostrava o quanto suas vidas foram afetadas pelo ato de seu filho.
Até então nunca tinha pensado muito a respeito e partilhava tranquilamente o senso comum. "A culpa deve ser dos pais que não souberam criar o menino, que não lhe deram educação". Mas no filme víamos dois seres humanos destruídos, assustados, surpresos, abismados, tentando entender o que havia dado errado. Suas vidas foram destruídas também. A sociedade apedrejou esses pais, a imprensa pressionou, os vizinhos pressionaram e eles pressionaram um ao outro. O casamento entrou em crise. Eles se separaram.
Em nenhum momento foi mostrada a razão pela qual o garoto fez aquilo. O filme não deu importância alguma ao fato em si. O foco era a família da vítima invisível, escondida, inesperadamente surgindo na nossa cara como tal: o atirador.
E então? eles certamente não quiseram criar um filho capaz disso. Eles certamente tentaram ensinar os valores que nós tentamos ensinar aos nossos. Mas, então, é nossa responsabilidade quando dá errado? Por quase duas horas o diretor nos faz observar a busca de respostas por esses pais. Vasculhando o quarto à procura de uma explicação qualquer, um indício da tragédia que se anunciasse e que eles não puderam ver. Não acharam nada. Tudo normal, na vida normal, de um rapaz normal. Se para aliviar a própria culpa não importa. Eles queriam, precisavam entender por que. Mas não entenderam, porque não há como entender analisando individualmente. São atos coletivos que determinam atitudes individuais? É o modo como funciona o mundo a nossa volta?
Podemos tentar orientar, escolher os lugares que frequentam, amigos, escolas. Mas não podemos decidir o que eles farão com isso. Isso cabe a eles. Na internet vi circular a frase " não pergunte que mundo deixaremos aos nossos filhos, mas que filhos deixaremos ao nosso mundo". Mas temos algum controle? Nossos filhos são fruto de um caldeirão de experiências vistas e vividas. Um livro em branco onde não só nós escrevemos. O que eles serão resultará não só do que vivem, aprendem, observam, mas principalmente do modo como elaboram o que vivem. Talvez aí sim nos caiba alguma responsabilidade. Ajuda-los a adquirir a perspectiva correta do mundo a sua volta é talvez o que podemos fazer de mais importante. É talvez o que vai fazer alguma diferença.
O texto de Heitor é pequeno e tem um tom pesado, desesperançado, que não combina com a alegria e a fé na vida que deveria povoar, fazer morada em um coração tão jovem. Mas é também inspirador. O peso e a tristeza fazem parte da vida mas tenho certeza de que ele vai conseguir encontrar seu caminho e recuperar a leveza, e que esta não seja insustentável como a de Milan Kundera.
(* a esse respeito recomendo o filme Tiros em Columbine de Michael Moore)
Cumade, tem muito de verdade no seu texto, mas você cita o exemplo de alguém que teve, supostamente, um surto psicótico. Não acho que os pais são completamente responsáveis por como seus filhos se tornarão. Eu vejo muito dessa falta de respeito pelo outro, de que Heitor fala, que poderia ter sido mostrado quando esses seres estão em formação. Quando eles tentam fazer algo que extrapola seus direitos e invade o direito do outro. Enfim, muitas vezes, os pais não têm consciência de algum valor ou ensinamento que possam estar passando que possa vir a gerar comportamentos desviantes. Enfim, acho que a gente tem que estar muito ligado e alerta. Mas ainda acredito que a regra é: "filho de peixe, peixinho é". Essas exceções fazem parte da regra.
ResponderExcluirPode ser cumade, mas mesmo mostrando, nem sempre conseguimos influenciar positivamente. De qualquer modo, o que exponho é a minha inquietação. Não tenho respostas, apenas sou grata por meu filho ser como é, e sei é claro que isso se deve em parte a mim e a Marcilio, mas muito também a ele mesmo, Como disse minha amiga Ester, andando com as próprias pernas.
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